a eleição do poeta
no meu país vamos eleger um Poeta. há meses que os candidatos ao lugar de Poeta trocam argumentos para nos convencer de que devem ser os eleitos. Há meses que estamos cansados de ouvir falar em poesia.
um dos candidatos é um poeta canónico. um desses versejadores que entraram para a história da literatura. anda agora pelas ruas a brandir volumes pesados de odes e sonetos, exigindo ser eleito pela obra que construiu ao longo de anos.
não há debate ou discurso em que ele não puxe da obra completa, encadernada com luxo e gravada a ouro. para muitos ele está velho e a bem dizer já ninguém o lê. é um clássico, um daqueles poetas chatos que se estudam na escola e sobre os quais nos exigem análises semânticas e métricas.
um outro candidato garante que fera uma poesia competente e tecnicamente perfeita. jura a pés juntos que os seus versos não terão nem uma sílaba a mais, nem uma sílaba a menos. afirma que sabe, perfeitamente, até onde deve levar o uso das metáforas, metonímias e sinédoques. com ele toda a poesia será exacta e de acordo com as mais rígidas regras ortográficas e gramaticais. os adversários dizem que só percebe de técnica. que tem uma poesia fria, sem alma. que não conhece o mundo, que nunca viu uma borboleta e que, por isso mesmo, as borboletas de que fala são meras abstracções. dizem ainda que não sabe ler a poesia que escreve e que por ser tão frio não há quem a queira ler por ele. em breve, asseguram os outros poetas, ele quererá ser o único poeta. ele vai emudecer os outros poetas e elevar-se-á à condição do único Poeta.
um dos poetas mais radicais opta pela poesia colectiva. que é do trabalho em conjunto que sai a verdadeira poética. na sede dele não sai um verso, ou uma figura de estilo que não sejam votadas por unanimidade e aclamação. assim será o país. a poesia deixará de ser individual e será composta por sindicatos e comissões de trabalhadores.
o mais radical dos candidatos não gosta de regras. entende que todos têm direito a escrever o seu poema como gostam. para ele tudo é um poema, desde que o autor nele se reveja. um dos seus apoiantes apresentou uma conta de somar como sendo um poema. logo um crítico o desmascarou, dizendo que uma operação aritmética nunca será um poema. o candidato radical decretou tratar-se de um atentado à liberdade poética. uma discriminação dos números em favor das letras. porque é que um verso tem de ser mais importante que uma parcela. o crítico calou-se e disse que se tinha enganado. nunca tinha visto um pedaço de poesia matemática tão perfeita e tão livre.
por fim há um candidato a Poeta, que concorre por poesia. ele não quer ser o Poeta. só quer ter o direito a ser considerado como uma hipótese válida para Poeta. a sua candidatura é profundamente poética, fala dos pássaros, das colinas e fala de uma cidade. enfim este candidato só queria ser o Poeta dessa cidade. mas como infelizmente esse cargo não existe, candidata-se ao todo, para gozar o privilégio de ser o Poeta da parte. quem o ouve falar, garante que ele de poesia não percebe nada, mas tem uma voz bonita.
nós vamos escolher o Poeta. nós estamos cansados de poesia. nós queremos regressar a casa, ouvir um disco e descansar enquanto nos deixamos envolver pela leitura compulsiva de um orçamento tórrido, cheio de reformas estruturais e medidas que visam o desenvolvimento do país.
um dos candidatos é um poeta canónico. um desses versejadores que entraram para a história da literatura. anda agora pelas ruas a brandir volumes pesados de odes e sonetos, exigindo ser eleito pela obra que construiu ao longo de anos.
não há debate ou discurso em que ele não puxe da obra completa, encadernada com luxo e gravada a ouro. para muitos ele está velho e a bem dizer já ninguém o lê. é um clássico, um daqueles poetas chatos que se estudam na escola e sobre os quais nos exigem análises semânticas e métricas.
um outro candidato garante que fera uma poesia competente e tecnicamente perfeita. jura a pés juntos que os seus versos não terão nem uma sílaba a mais, nem uma sílaba a menos. afirma que sabe, perfeitamente, até onde deve levar o uso das metáforas, metonímias e sinédoques. com ele toda a poesia será exacta e de acordo com as mais rígidas regras ortográficas e gramaticais. os adversários dizem que só percebe de técnica. que tem uma poesia fria, sem alma. que não conhece o mundo, que nunca viu uma borboleta e que, por isso mesmo, as borboletas de que fala são meras abstracções. dizem ainda que não sabe ler a poesia que escreve e que por ser tão frio não há quem a queira ler por ele. em breve, asseguram os outros poetas, ele quererá ser o único poeta. ele vai emudecer os outros poetas e elevar-se-á à condição do único Poeta.
um dos poetas mais radicais opta pela poesia colectiva. que é do trabalho em conjunto que sai a verdadeira poética. na sede dele não sai um verso, ou uma figura de estilo que não sejam votadas por unanimidade e aclamação. assim será o país. a poesia deixará de ser individual e será composta por sindicatos e comissões de trabalhadores.
o mais radical dos candidatos não gosta de regras. entende que todos têm direito a escrever o seu poema como gostam. para ele tudo é um poema, desde que o autor nele se reveja. um dos seus apoiantes apresentou uma conta de somar como sendo um poema. logo um crítico o desmascarou, dizendo que uma operação aritmética nunca será um poema. o candidato radical decretou tratar-se de um atentado à liberdade poética. uma discriminação dos números em favor das letras. porque é que um verso tem de ser mais importante que uma parcela. o crítico calou-se e disse que se tinha enganado. nunca tinha visto um pedaço de poesia matemática tão perfeita e tão livre.
por fim há um candidato a Poeta, que concorre por poesia. ele não quer ser o Poeta. só quer ter o direito a ser considerado como uma hipótese válida para Poeta. a sua candidatura é profundamente poética, fala dos pássaros, das colinas e fala de uma cidade. enfim este candidato só queria ser o Poeta dessa cidade. mas como infelizmente esse cargo não existe, candidata-se ao todo, para gozar o privilégio de ser o Poeta da parte. quem o ouve falar, garante que ele de poesia não percebe nada, mas tem uma voz bonita.
nós vamos escolher o Poeta. nós estamos cansados de poesia. nós queremos regressar a casa, ouvir um disco e descansar enquanto nos deixamos envolver pela leitura compulsiva de um orçamento tórrido, cheio de reformas estruturais e medidas que visam o desenvolvimento do país.
1 Comments:
30 anos no parlamento a versejar, não se lhe conhecem iniciativas nem projectos legislativos. E regressou ao parlamento.
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