Monday, February 06, 2006

vê a lavra

Paulo chegou um livro rasgado pelos arados. olha, há páginas quebradiças pela seca e pastores a vaguear. vem ler a transumância dos poemas. há poemas que crescem abudantes e a ondular como o capim. a cotovia canta com a voz do Ruy. canta assim.

NOVEMBRINA SOLENE

Seu Zuzé, as tuas vacas, como estão?

Longe daqui,
subimos os morros

fomos procurar
a água que resta
do ano que passa.

Senhora Luna
a farinha

Está a secar.

Tarda a chuva
seca o milho

a lavra não vai medrar.

Tchimutengue, meu vizinho
então por cá?

Pois que vim te visitar
te avisar
que o meu gado vai passar
aqui por perto.

Tarda a chuva e é preciso
procurar o que lhe dar de comer
o que dar de beber

o capim está a ficar netro
está na hora de mudar.

Imigrante Silva, a tua mulher?

Está mal.

Que é do leite para lhe dar
a carne para lhe engordar?

E os filhos?

Estão magrinhos
doentados
vão ficar igual ao pai.

Que é da escola para lhes dar
sapatos para lhes calçar?

Dunduma amigo
Companheiro Chipa
Zeca Ernesto, Calembera,
olhai pelo gado.
Protegei os pastos.
Olhai pela vida das fêmeas
e pela saúde dos machos

Ruy Duarte de Carvalho,(1972), Cotovia, 2006

vê aqui "Lavra"

Thursday, February 02, 2006

sinónimo

"Beladona, n.Em Italiano, uma mulher bela; em Português, um veneno mortal. Um exemplo assinalável da semelhança entre estas duas línguas."

Ambrose Bierce, "Dicionário do Diabo", Tinta da China, 2006